Serra e Serrotes para Marcenaria

marcenaria-amadora-artigos-serra-e-serrotes-para-marcenaria-capa

Texto por João Carlos Veloso

Resumo: Este texto tem como objetivo explicar as principais características dos serrotes manuais.

Quais as ferramentas mais importantes numa marcenaria amadora? Muitos de nós dirão plainas, formões, martelo, mas e agora, quais destas ferramentas não são precedidas por um dimensionamento maior da madeira?

Todos nós estudamos nosso planos, seja ele no papel, no computador ou mesmo maluquices de nossa cabeça, mas aposto que após estes estudos, o correto corte da madeira a ser trabalhada é uma das primeiras etapas de nosso trabalho.

Os serrotes manuais, hoje em dia, quase renegados a segundo plano devido à demanda dos clientes por uma rapidez na execução do projeto, é uma das ferramentas, até hoje, mais usada por hobbystas e puristas na marcenaria.

O artigo em questão, não tem como objetivo comparar o uso de ferramentas manuais com as elétricas. Muito menos dizer qual é mais precisa, uma vez que ambos necessitam de treino e prática, mas sim exemplicar cada serrote manual e seus usos.

Travas da lâmina

Uma característica geral a todos os serrotes, seja ele ocidental ou oriental, é o travamento dos dentes, que pode ser definido como:

“É a alternancia de angulação entre os dentes do serrote, e tem indicação específica para cada utilização, variando de 1,3 à 1,8x a largura da lâmina.”

​​Madeiras mais verdes e fibrosas requerem um travamento maior (de até 1,8x a espessura da lâmina). Madeiras mais secas e duras, um travamento menor (acima de 1,3x) garantindo um melhor acabamento do corte.

Cortes rasos não há necessidade deste travamento.

Cortes que não saem retos podem indicar a falta de calibragem neste travamento, a ser executado com alicate específico. (vide vídeos na bibliografia)

Tipos de dentes

A. Madeiras médias e duras. Rip cut.

B. Madeiras moles, médias e fibrosas. Rip cut. (orientais)

C. Madeiras médias e duras. Cross cut.

D. Indicado para qualquer tipo de corte (serrotes de ponta)

E. Encontrado no mercado brasileiro, porém não é eficaz, indicado transformá-lo em F.

F. Pequena mudança na afiação de E, mas evita o dobramento das pontas da mesma.

G. Madeiras moles, médias e fibrosas. Cross cut. (orientais). Comum também nos serrotes comuns e de costa ocidentais.

SERROTES OCIDENTAIS

Tipos mais comuns, os quais todos aqui tiveram acesso a um ou mais tipos.

Devido à sua afiação, sua ação de corte faz-se ao empurrar o mesmo contra a madeira.

Serrote de Carpinteiro

Fabricado em aço flexível e formato triangular. Cabo geralmente de madeira.

Recomendado no mínimo dois, sendo um maior (até 26 pol.) com dentes mais espaçados (até 6ppi para desdobramento de pranchas) e o menor (até 24 pol.) com maior numero de dentes (até 9ppi) para cross cut.

Quanto menor o serrote, menor deve ser a espessura de sua lâmina (0.7mm à 1mm) onde o travamento dos dentes entre 1.3 a 1.8x a espessura da lâmina. (Quanto maior o travamento, mais indicado para madeiras verdes)

Serrote de Costa

Fabricado em aço e formato retangular. Por uma menor espessura de lâmina (em torno de 0.7mm) usa-se um reforço metálico em seu dorso aumentando sua resistência.

Indicado para cortes de precisão (encaixes) uma vez que possui um grande número de dentes (10 a 14 ppi) e um menor travamento (1,3x a espessura da lâmina) garantem um corte mais limpo.

Serrotes deste modelo, porém em menor escala (costinha), são usados para cortes ainda mais finos e precisos (encaixes de rabo de andorinha – dovetails)

Serra de Joalheiro (Arco tico tico)

Composta por uma arco metálico e serras finas e intercambiáveis, muito indicada em cortes curvos e no interior de peças. Muito utilizada em trabalhos de marchetaria. Há um projeto bem bacana na página de Marcenaria Amadora.

Serra São José/ Serra de arco

Considerada por marceneiros mais tradicionais como a serra mais importante na marcenaria devido à sua versatilidade, podendo ser aplicada desde o desdobramento de troncos inteiros

Assim como cortes para encaixes.

Não é encontrada à venda, mas pode ser feita com lâminas de serra de fita.

Serrote de ponta

Lâmina muito flexível e sem travamento dos dentes, indicado para corte de cavilhas rentes a superfície da madeira sem causar defeitos.

SERROTES ORIENTAIS (Japoneses)

Começando a ficar conhecido no ocidentes, são serrotes que realizam o corte em ação de puxar o mesmo contra a madeira (ao contrário dos ocidentais), e por esta característica, possibilitam uma menor espessura da lâmina (isso influencia em menor travamento) e consequente cortes mais “limpos”.

Serrotes deste modelo, mais antigos, costumam ser afiados por mestres japoneses, embora os atuais já possuem lâminas substituíveis.

Ryoba-Noko ou Ryoba

Noko = Serrote

Ryoba = “os dois”

O Ryoba é o serrote mais comum dentre os japoneses.Possui dentes em ambos os lados da lâmina, daí seu nome, onde um dos lados com afiação Cross e outro lado Rip cut. É o equivalente ao nosso serrote comum, utilizado em trabalhos gerais, mas contra indicado em trabalhos de precisão (encaixes).

Hozobiki-Noko (Rip cut) e Dozuki-Noko (Cross cut)

Equivalente ao serrote de costa ocidental, possibilitante cortes precisos de encaixes. Devido à sua ação ao puxar, permite o uso de uma lâmina muito fina e com reforço nas costas do mesmo.

Hozo = Espiga; Dozuki = Encosto da espiga; biki = puxar.

Azebiki-Noko

Para cortes no meio de pranchas. Não é comum no ocidentes.

Kugihiki-Noko

O equivalente ao nosso serrote de ponta. Utilizado para cortes de cavilhas, borboletas, etc.

Glossário utilizado neste artigo:

Cross cut = corte perpendicular às fibras da madeira.

Rip cut = corte no mesmo sentido às fibras da madeira.

ppi (ingles) = dentes por polegada.

Conclusões:

– Independente da forma que você escolha trabalhar, seja profissionalmente, hobbista ou amador, a utilização de ferramentas, quer seja elétricas ou manuais, é uma atitude que requer treino, com o treino vem a experiência, com a experiência vem a excelência!

– Ao se fazer encaixes, independente de furas, espigas ou mesmo rabo de andorinha, não ficará bom nas primeiras vezes. É comum os primeiros cortes ficarem tortos e/ou fora de esquadro. Uma correta escolha do tipo de serrote e sua afiação ideal, assim como o travamento de seus dentes minimiza esses defeitos.

Referências Bibliográficas:

http://www.badaxetoolworks.com/index.php

http://www.moritoebine.com/Afiacao%20Serrote.pdf

Projeto Marcenaria Amadora – Serra de Joalheiro: https://www.youtube.com/watch?t=18&v=ljzqAgnbL-o

Projeto Paul Sellers – Serra São José: https://www.youtube.com/watch?v=Z4LohjmskEk

Afiação de serrote Paul Sellers – Rip Cut: https://www.youtube.com/watch?v=UA5DixEaaUo&feature=iv&src_vid=E06aewpmSyQ&annotation_id=annotation_1529181505

Afiação de serrote Lie Nielsen – Cross Cut: https://www.youtube.com/watch?v=tLzbTOPn5d8

Se você gostou do conteúdo, compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Faça parte da nossa lista de e-mails!